Texto. Teste. Textando. Minhas palavras - acadêmicas, literárias, profissionais, banais - postas para circular, que o que interessa é o movimento.
sábado, 13 de novembro de 2010
Quixote
E o quadro acabou ficando por lá. Alguns dias no chão. Depois para a parede. Justo em cima da cama. Me observando. Me questionando. Me inquirindo. O cavaleiro da triste figura em noites insones, ao meu lado, sobre mim, sussurrando que moinhos de vento só existem quando nossa imaginação trabalha a seu favor.
O Neruda que você nunca leu
- Opa, opa, aonde você vai com esse livro?
- Você está querendo saber aonde eu vou com o MEU livro?
Eles já tinham superado, não sem discussões e ao menos uma mordida, a divisão dos CDs. Chegavam agora à etapa dos livros.
- Este livro não é seu. Foi a mamãe que me deu.
- Sua mãe não teria sensibilidade para te dar um livro. E sabe que poesia não é o seu forte.
Doze anos juntos. E ela não deixou passar uma oportunidade de alfinetar a Dona Maura.
- Sim, foi ela quem me deu. E tem até uma dedicatória. Pode conferir.
Lucinha titubeou. E se ela abrisse a primeira página e se deparasse com a letra forçadamente caprichosa da Dona Maura? Seria a prova inconteste.
- Pedro Paulo, este livro é meu. Nós compramos juntos. Daí sua confusão. Aliás, essa era uma das poucas coisas que ainda fazíamos juntos. Ir a livrarias. Apesar de você preferir a seção de DVDs.
- Adoro filme, mas nunca desprezei os livros. E este, que suas mãos insistem em agarrar, me pertence.
- Ah, mas você está afirmando que gosta mais de Neruda do que eu?
- Não tem a ver com preferências, Lúcia Helena. É uma questão prática: o livro deve ficar comigo, já que é meu. Vou ligar para a mamãe. Ela confirma o presente.
Na iminência de vislumbrar o brilho nos olhos de Dona Maura, convidada a dar o voto de minerva num momento tão crucial, Lucinha resolveu abrir o livro.
Na primeira página havia, sim, uma dedicatória. Mas não era da mãe de Pedro Paulo. O que se via era a letra redonda de uma Carola, maio de 2004, “vinte poemas de amor para você não me esquecer”.
- Sim, o livro é seu. Mas você nunca leu. As páginas estão praticamente grudadas. Vou levar.
- Você está querendo saber aonde eu vou com o MEU livro?
Eles já tinham superado, não sem discussões e ao menos uma mordida, a divisão dos CDs. Chegavam agora à etapa dos livros.
- Este livro não é seu. Foi a mamãe que me deu.
- Sua mãe não teria sensibilidade para te dar um livro. E sabe que poesia não é o seu forte.
Doze anos juntos. E ela não deixou passar uma oportunidade de alfinetar a Dona Maura.
- Sim, foi ela quem me deu. E tem até uma dedicatória. Pode conferir.
Lucinha titubeou. E se ela abrisse a primeira página e se deparasse com a letra forçadamente caprichosa da Dona Maura? Seria a prova inconteste.
- Pedro Paulo, este livro é meu. Nós compramos juntos. Daí sua confusão. Aliás, essa era uma das poucas coisas que ainda fazíamos juntos. Ir a livrarias. Apesar de você preferir a seção de DVDs.
- Adoro filme, mas nunca desprezei os livros. E este, que suas mãos insistem em agarrar, me pertence.
- Ah, mas você está afirmando que gosta mais de Neruda do que eu?
- Não tem a ver com preferências, Lúcia Helena. É uma questão prática: o livro deve ficar comigo, já que é meu. Vou ligar para a mamãe. Ela confirma o presente.
Na iminência de vislumbrar o brilho nos olhos de Dona Maura, convidada a dar o voto de minerva num momento tão crucial, Lucinha resolveu abrir o livro.
Na primeira página havia, sim, uma dedicatória. Mas não era da mãe de Pedro Paulo. O que se via era a letra redonda de uma Carola, maio de 2004, “vinte poemas de amor para você não me esquecer”.
- Sim, o livro é seu. Mas você nunca leu. As páginas estão praticamente grudadas. Vou levar.
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